Convenhamos, jogos cheios de sangue, com soldados ultra-fortes matando aliens répteis não é exatamente o gosto de todos os jogadores. Nove anos atrás, quando a franquia Gears of War era lançada para o Xbox 360, a mistura de um método inovador de jogo de tiro, junto com gráficos impressionantemente bem trabalhados, deixava o jogo difícil de se largar, chegando a ser um dos maiores clássicos da geração, e continua sendo um importante título para a Microsoft até hoje. Agora, antes do lançamento do Gears of War 4, em 2016, os quatro jogos originais (GoW 1, 2, 3 e Judgement) foram todos remasterizados e lançados novamente, em uma única coletânea, chamada de “Gears of War: Ultimate Edition”. A coletânea é o primeiro projeto da “The Coalition”, um estúdio da Microsoft dedicado especialmente a dar continuidade pra a franquia – mais ou menos como a 343 industries é para a série Halo. O novo jogo se parece bastante com a ideia do Master Chief Collection e do Uncharted Compendium, mas com alguns bônus que antes eram exclusivos para pré-venda, além de um preço 33% menor, logo no lançamento. Apesar dos novos (e incríveis) efeitos visuais, os gráficos não impressionam tanto quanto fizeram em 2006, ao primeiro título. Parte disso provavelmente se deve à dificuldade em se trabalhar com um framework de quase 10 anos, junto com a evolução constante de outros jogos.
Algumas alterações também mudaram um pouco o estilo do jogo, que pode não agradar a alguns jogadores mais antigos. Por exemplo, a paleta de cores da série antiga era bem reduzida, quase monocromática, com cores bem escuras e ambientes mal-iluminados, o que dava um estilo bem “dark” ao game. Já no Ultimate Edition, a Coalition optou por uma paleta mais ampla, dando ao jogo um visual levemente mais “colorido” e iluminado.
Mesmo sendo claro que houve enormes melhorias técnicas, dá para sentir que algo foi perdido. Infelizmente, também, em alguns momentos que requerem um pouco mais do processador, a taxa de frames ainda cai um pouco abaixo dos 30fps. Deixando as críticas de lado, a Ultimate Edition é de fato a melhor maneira de se jogar Gears of War até agora, e se você ainda não jogou, esse sem dúvidas é o momento. Caso não seja familiar com a série Gears, é um jogo de tiro em terceira pessoa, com um jeito mais ou menos parecido com o clássico Resident Evil 4.
O ponto mais inovador, e que dezenas de outros jogos tentaram implementar, foi o uso da cobertura agachado ou nas paredes. Enquanto na guarda, simplesmente aperte A para pular ou ir rapidamente para a parede ou muro mais próximo, reduzindo o tempo para avançar e os danos com os tiros dos inimigos, o que é muito útil, já que é um jogo em que poucos segundos em tiro aberto podem te matar. Outras características como a opção do “tiro cego”, inimigos tão fortes quanto o jogador e ataques corpo-a-corpo bem… realistas, deixaram o jogo em um nível de imersão que nenhum outro título tinha alcançado até então.
Não estamos mais em 2006, e o estilo de jogo de GoW já é encontrado em boa parte dos jogos de tiro aí afora, mas ainda sim, o game ainda consegue se destacar dos demais. Primeiro, algumas melhorias no gameplay deixaram a experiência de jogo ainda mais imersiva. Por exemplo, agora é possível focar em eventos específicos segurando Y, eliminando a necessidade de uma espécie de cutscene específica para cada pequeno evento que acontece. Segurar A no meio de uma batalha também permite o jogador ir rapidamente de um lado ao outro do campo, com direito a uma câmera de noticiário de TV enquanto corre.
A segunda, e mais importante forma em que o Gears of War ainda se destaca é o design das fases. Durante a produção, os designers eram livres para fazer os cenários como bem entendiam, o que deu um resultado bem legal. Não há muito mais a se fazer em GoW do que matar Locusts – uma espécie de aliens répteis subterrâneos – mas, por algum motivo, você não se cansa de jogar, e não se torna algo repetitivo ou muito igual a outras cenas. Até as fases mais “normais” são divertidas, com inimigos que tem uma inteligência mínima e aguentam quase tantos tiros quanto o protagonista, fazendo com que a lógica muitas vezes tenha que ser usada mais que a força. Então sim! Apesar de algumas pequenas (e desculpáveis) falhas, o Gears of War: Ultimate Edition é um game que vale a pena ser jogado, especialmente se você ainda não teve experiências com os jogos originais da série. O título é, sem dúvidas, um dos melhores jogos de 2015, e, devido a pouca idade da geração atual, poucos jogos têm tanta influência quanto Gears, e provavelmente poucos terão o impacto que os originais tiveram.